Este projeto de pesquisa versa sobre os discursos arquitetônicos produzidos entre 1860 e 1930, com ênfase na formação dos campos teóricos brasileiros compreendidos numa abordagem global. Diante das múltiplas abordagens das quais esse período tem sido objeto, privilegia-se a temática do cosmopolitismo e do nacionalismo na formulação de manifestos, análises e obras construídas pertencentes aos diversos movimentos e ideologias vigentes no recorte cronológico escolhido. Será evidenciada, sobretudo, a tensão entre as diversas correntes ecléticas, os tradicionalismos nativistas e, complementarmente, as vanguardas.

Assume-se como problema central desta pesquisa, destarte, a necessidade de resgate do panorama teórico do ecletismo, evidenciando a diversidade de pensamento nos próprios termos dos profissionais, críticos e obras do período 1860–1930. Para tanto, propõe-se, no lugar da dicotomia convencional historicismo–modernismo, avalizar outras caracterizações mais granulares. Em particular, defende-se a viabilidade interpretativa de um gradiente classicismo–nativismo; essa perspectiva respeita as particularidades e as clivagens intrínsecas à formação dos discursos teóricos durante o longo século XIX. Esse quadro de leitura será empregado na demonstração da cultura crítica do ecletismo brasileiro, tendo em vista suas especificidades quanto à formulação de um discurso nacionalista às margens de uma cultura erudita ampla e cosmopolita.

Este projeto de pesquisa empregará, como fontes, tanto a produção textual quanto a obra construída no período em estudo. Dar voz aos autores, a suas críticas e teorizações explícitas, é o instrumento pretendido para superar a imposição retrospectiva de marcos interpretativos oriundos do modernismo. Ao mesmo tempo, esse universo textual não abarca todo o acervo edificado desse período, caracterizado por um processo acelerado de urbanização. Assim, a leitura do objeto arquitetônico constitui-se em recurso indispensável para a elaboração de uma narrativa abrangente da arquitetura eclética. Os debates políticos e sociais atinentes ao nacionalismo e ao nativismo, para além do campo estrito da profissão arquitetônica, fazem naturalmente parte do corpo documental vinculado ao tema. Em que pese a relevância de eventuais documentos textuais ou gráficos inéditos, o material publicado e as obras construídas apresentam maior relevância por comporem o contexto de discussões verdadeiramente públicas.

De modo a retratar o panorama teórico e edificado do período estudado, privilegiam-se abordagens formalistas na análise das fontes. A ênfase habitual em expor a ligação entre as arquiteturas historicistas e seus precedentes, ainda que seja um procedimento interpretativo válido, não exaure os significados e as associações que podem ser extraídas dos pensamentos ecléticos. A análise de obras e projetos segue parâmetros predominantemente morfológicos. Por analogia, extrapola-se a metodologia de aspectos tipológicos — convencionalmente entendidos como questões de planta baixa — para tipologias iconográficas, tendo em vista ser este um aspecto preeminente do ideário eclético. Essa abordagem é complementada pelo indispensável mapeamento semântico dos elementos formais.

A produção científica visa a suprir a carência de reflexões acerca da teorização e crítica da arquitetura eclética numa perspectiva abrangente e transnacional. Deve contribuir, em especial, para a consolidação de um panorama acadêmico brasileiro de discussão acerca da teoria da arquitetura nacional antes do movimento moderno. A atuação nesse âmbito articula-se, especialmente, junto à constituição de uma massa crítica de pesquisas, amparada na crescente representatividade de alunos de pós-graduação neste programa com projetos versando sobre arquitetura não moderna.

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